segunda-feira, 21 de novembro de 2011

"Não pratico habilidades" - B Fachada

Uma das novas músicas do B Fachada: Não pratico habilidades

Ouçam aqui

Letra (tirada a ouvido):


Podes fazer o que quiseres
Eu deixo... gozar comigo por não ser cantor
Podes até ser má que eu não me queixo
Estás sempre pronta para o amor

Eu não pratico habilidades
Tu sabes bem como eu sofro com o calor
Viver é só facilidades
Estás sempre pronta para o amor

Tiro a barba para te animar
Canto a minha pirosada
Para te chegar ao calcanhar
Preguiçoso e mau de piça
Sou um bruto a melhorar
Enquanto não fizer te justiça
Não me sento a descansar

Tu desconfias do Diabo
Mas o Diabo é meu professor
Eu aguento, eu nunca acabo
Tu estás sempre pronta para o amor
Se eu me livrar dos disparates
Podes ralhar por passar melhor
Eu nos meus 26 quilates
Dou-te a resposta para o amor

Tiro a barba para te animar
Canto a minha pirosada
Para te chegar ao calcanhar
Preguiçoso e mau de piça
Sou um bruto a melhorar


Enquanto não fizer te justiça
Não me sento a descansar

Mostras-me a barriga para sentir-me um vencedor
Mas duvidas que eu consiga dar vazão ao teu amor

sábado, 8 de outubro de 2011

"O Ovo de Colombo" - Daniel Pereira 'Cristo'

Sou o que vivo...não o que tenho!!!

segunda-feira, 27 de junho de 2011

Penhasco

Estou em frente à janela onde 'me despenhei'
Estou a ouvir o desespero de uma mulher adúltera
Gritando com o som da trovoada ao seu marido
Troveja forte e o vento levanta-se
A alma revolta-se com os erros do passado recente
A alma revolta-se com a impotência na sua correcção

sexta-feira, 27 de maio de 2011

"Eu, quem sou eu???" - Nuno Duarte

Nem eu sei quem eu sou.
Além de ser o que não sei.
Eu penso que sou...
Humm...
Um génio da loucura
Que gosta de ver e sentir
O corpo da mulher que ama
E de sonhar com ela
De ouvir a música que gosta
Além disso, nada sei...
Mas sei que tudo está aqui ao pé de mim
E eu sinto que não estou no vazio do tempo
É assim que eu sou
O nada que tudo quer
O nada que quer o que todos querem
O nada que quer o prazer
O nada que quer viver a loucura da mulher amada
Eu sou o nada
in http://www.myspace.com/n_d_666

quinta-feira, 12 de maio de 2011

"São Sete Voltas P'rá Muralha Cair" - Tiago Guilul

ESTA É UMA GUERRA QUE SE GANHA DE RODEIOS
A ESTRATÉGIA É SIMPLES, NÃO SE CONTAM OS MEIOS
NO ALTO DA MURALHA ELES ATÉ PODEM RIR
UMA VOLTA DADA P'RA MURALHA CAIR

CONTRA OS TIJOLOS MARCHAM AS CANÇÕES
PARECEMOS TOLOS MAS TEMOS OS REFRÕES
É ASSOBIANDO P'RO AR QUE VAMOS INSISTIR
DUAS VOLTAS DADAS P'RA MURALHA CAIR

NÃO É A GEOESTRATÉGIA QUE DIZ
MAS A HOSPITALIDADE DA MERETRIZ
PRENDAM OS CLIENTES, DEIXEM A POBRE SAIR
TRÊS VOLTAS DADAS P'RA MURALHA CAIR

NÃO TEMOS QUARTEL, DORMIMOS NO ARRAIAL
ORQUESTRA DE SOPROS SEM PAUTA MUSICAL
AO AR-LIVRE É QUE GOSTAMOS DE NOS OUVIR
QUATRO VOLTAS DADAS P'RA MURALHA CAIR

NÃO HÁ BATERIA, BAIXO, GUITARRA, MICROFONE
NA TROMBETA TEMOS O NOSSO PROTO-TROMBONE
HAJA BOCA P'RA SOPRAR E PÉS P'RA FUGIR
CINCO VOLTAS DADAS P'RA MURALHA CAIR

UM AGRUPAMENTO QUE NINGUÉM ATURA
O SOM NÃO ENTRETEM, O SOM SÓ DESMURA
NÃO É PARA EMBALAR É MESMO P'RA DEMOLIR
SEIS VOLTAS DADAS P'RA MURALHA CAIR

É AGORA OU NUNCA ENCHAM OS PULMÕES
É MESMO P'RA GRITAR SEM CONTEMPLAÇÕES
DE JERICÓ NEM UMA PEDRA VAI RESISTIR
SÃO SETE VOLTAS P'RA MURALHA CAIR

Música e letra de Tiago Guillul.
[Guillul: vozes, baixo, guitarra acústica e manipulação do excerto sonoro; Silas: órgão; Ben: guitarra eléctrica; Joaquim: vozes e gritos; Miriam: vozes; Joel Silva: bateria; palmas: Guillul, Silas, Ben, Baridó, Fernandes, Ramos, Pires e Alex]

quarta-feira, 11 de maio de 2011

"Que Deus" - Boss AC

Há perguntas que têm de ser feitas!

Quem quer que sejas
Onde quer que estejas
Diz-me se...
É este o mundo que desejas!?

Homens rezam, acreditam,
Morrem por ti!
Dizem que estás em todo o lado
Mas não sei se já te vi!

Vejo tanta dor no mundo
Pergunto-me se existes!?
Onde está a tua alegria
Neste mundo d'homens tristes!?

Se ensinas o bem
Porque é que somos maus por natureza!?
Se tudo podes
Porque é que não vejo comida à minha mesa?

Perdoa-me as dúvidas
Tenho que perguntar
Se sou teu filho e tu me amas
Porque é que me fazes chorar?

Ninguém tem a verdade
O que sabemos são palpites
Sangue é derramado em teu nome
É porque o permites

Se me deste olhos
Porque é que não vejo nada?!
Se sou feito à tua imagem
Porque é que eu durmo na calçada!?

Será que pedir a paz entre os homens
É pedir demais!?
Porque é que sou discriminado
Se somos todos iguais!?

Porquê!?
Porque é que os Homens se comportam como irracionais?!
Porque é que guerras, doenças matam cada vez mais?!
Porque é que a paz não passa de ilusão?!
Como pode o Homem amar com armas na mão?!
Porquê!?
Peço perdão pelas perguntas que têm que ser feitas
E se eu escolher o meu caminho será que me aceitas?!
Quem és tu? Onde estás? O que fazes? Não sei!
Eu acredito é na Paz e no Amor!

Por favor não deixes o mal
Entrar no meu coração
Dou por mim a chamar
O teu nome em horas d'aflição

Mas... Tens tantos nomes!
És rei de tantos tronos!
Se o Homem nasce livre
Porque é que alguns são donos?!

Quem inventou o ódio?!
Quem foi que inventou a guerra?!
Às vezes acho que o inferno
É um lugar aqui na Terra!

Não deixes crianças
Sofrer pelos adultos
Os pecados são os mesmos
O que muda são os cultos

Dizem que ensinaste o Homem
A fazer o bem
Mas no livro que escreveste
Cada um só lê o que lhe convém

Passo noites em branco
Quase sem dormir a pensar
Tantas perguntas
Tanta coisa por explicar

Interrogo-me
Penso no destino que me deste
E tudo o que me acontece
É porque tu assim quiseste

Porque é que me pões de luto
E me levas quem eu amo?!
Será que é essa a justiça
Pela qual eu tanto clamo?!

Será que só percebemos
Quando chegar a nossa altura!?
Se calhar desse lado
Está a felicidade mais pura!

Mas se nada fiz
Nada tenho a temer
A morte não me assusta
O que assusta é a forma de morrer!

Porque é que os Homens se comportam como irracionais?!
Porque é que guerras, doenças matam cada vez mais?!
Porque é que a paz não passa de ilusão?!
Como pode o Homem amar com armas na mão?!
Porquê!?
Peço perdão pelas perguntas que têm que ser feitas
E se escolher o meu caminho será que me aceitas?!
Quem és tu? Onde estás? O que fazes? Não sei!
Eu acredito é na Paz e no Amor!

Quanto mais tento aprender
Mais sei que nada sei
Quanto mais chamo o teu nome
Menos entendo o que chamei

Por mais respostas que tenha
A dúvida é maior
Quero aprender com os meus defeitos
Acordar um homem melhor

Respeito o meu próximo
Para que ele me respeite a mim
Penso na origem de tudo
E penso como será o fim!

A morte é o fim
Ou é um novo amanhecer?!
Se é começar outra vez
Então já posso morrer!

(Teresa Salgueiro)
Ao largo ainda arde
A barca da fantasia
O meu sonho acaba tarde
Acordar é que eu não queria!

domingo, 24 de abril de 2011

"Crossfire" - Brandom Flowers


Music video by Brandon Flowers performing Crossfire. (C) 2010 The Island Def Jam Music Group

segunda-feira, 18 de abril de 2011

"My Falling House" - At Freddy's House

I raise my hands
and stretch the dry skin of old age
all the lines draw an ending
without time for amendments

time went by
my old house became smaller
all my doors seem too narrow
as my shadow grows taller

the stairs inside my falling house
pile the dust of old days
I laze beneath the rusty hatch
where I once locked the sunshine

I am home
I could lay here where the walls tell my story
I rest my head down on the cold floor
I can wait here for a while, before morning

the light inside my falling house
warms the dust of old days
from the roof the open hatch
cuts half my ageing shadow.

Letras: Susana Noronha © http://www.susananoronha.com/

terça-feira, 15 de fevereiro de 2011

Florence and The Machine - Dog Days Are Over (2010 Version)

Happiness hit her like a train on a track
Coming towards her stuck still no turning back
She hid around corners and she hid under beds
She killed it with kisses and from it she fled
With every bubble she sank with her drink
And washed it away down the kitchen sink

The dog days are over
The dog days are done
The horses are coming
So you better run

Run fast for your mother, run fast for your father
Run for your children, for your sisters and brothers
Leave all your loving, your loving behind
You cant carry it with you if you want to survive

The dog days are over
The dog days are done
Can you hear the horses?
‘Cause here they come

And i never wanted anything from you
Except everything you had and what was left after that too, oh
Happiness hit her like a bullet in the head
Struck from a great height by someone who should know better than that

The dog days are over
The dog days are done
Can you hear the horses?
‘Cause here they come

Run fast for your mother, run fast for your father
Run for your children, for your sisters and brothers
Leave all your loving, your loving behind
You cant carry it with you if you want to survive

The dog days are over
The dog days are done
Can you hear the horses?
‘Cause here they come

The dog days are over
The dog days are done
The horses are coming
So you better run

Compositores: Florence Welch, Isabella Summers
Editora: Universal Island, Moshi Moshi, IAMSOUND

quarta-feira, 9 de fevereiro de 2011

Liberdade de correr, de saltar, de gritar

Correr, com este frio, é quase como gritar
Quando, em menino, corria sem pensar em nada
Não havia vontade sabida nos gritos de cada
As correrias saiam fluídas e a desgarrar


E crescido... agora, talvez só mais velho
Há sulcos cá dentro que ecoam urros
São um impulso sério dos murros
Que nunca nos apeteceriam em fedelho


O espelho já reflecte rugas e cãs
E as pernas já não correm sem nexo
Há que equilibrar o corpo convexo
Com o desgaste diário da mente vã


Quando, em menino, corria sem pensar em nada
Hoje corro a pensar em tudo e grito à desgarrada

quarta-feira, 2 de fevereiro de 2011

De falar contigo, como sempre!

Ah... disso não tenho pressa
Gosto de acasos e de dizer ok
Eu sou curioso a caracterizar
Idem na contemplação inquieta
Não me acerco do signo das estrelas
Não me perco de teorias, só de mulher
Sei mais por elas, da sua boca
Ah... e do signo elas dizem


Gostam de saber tudo...
Ouvir tudo de relance também encaixa
Sabem guardar segredos e dos bem quentes
Exigem não falar, dizem ser ouvintes...
Sem se exporem também
Havendo nudez que seja bem guardada
Um dia pode ser que a guardemos juntos, dia-a-dia
Nunca digo nunca, eu!


Fazem deles bons amigos, confidentes
Prefiro ser carinhosamente mais transparente
E dormir sem receio do hoje se repetir já ao acordar
O dia foi duro e atrapalhado
Um pouco de força rude da mente a atrapalhar
Força a irritação e agora ninguém explica
Mesmo quando se lembra, deixam sem jeito qualquer um
Mais uma vez aguardo as cores do fica bem... comigo!

sexta-feira, 28 de janeiro de 2011

"Tabacaria" - Álvaro de Campos (com voz de João Villaret e música de Dead Combo)

Não sou nada.
Nunca serei nada.
Não posso querer ser nada.
À parte isso, tenho em mim todos os sonhos do mundo.

Janelas do meu quarto,
Do meu quarto de um dos milhões do mundo que ninguém sabe quem é
(E se soubessem quem é, o que saberiam?),
Dais para o mistério de uma rua cruzada constantemente por gente,
Para uma rua inacessível a todos os pensamentos,
Real, impossivelmente real, certa, desconhecidamente certa,
Com o mistério das coisas por baixo das pedras e dos seres,
Com a morte a pôr humidade nas paredes e cabelos brancos nos homens,
Com o Destino a conduzir a carroça de tudo pela estrada de nada.

Estou hoje vencido, como se soubesse a verdade.
Estou hoje lúcido, como se estivesse para morrer,
E não tivesse mais irmandade com as coisas
Senão uma despedida, tornando-se esta casa e este lado da rua
A fileira de carruagens de um comboio, e uma partida apitada
De dentro da minha cabeça,
E uma sacudidela dos meus nervos e um ranger de ossos na ida.

Estou hoje perplexo como quem pensou e achou e esqueceu.
Estou hoje dividido entre a lealdade que devo
À Tabacaria do outro lado da rua, como coisa real por fora,
E à sensação de que tudo é sonho, como coisa real por dentro.

Falhei em tudo.
Como não fiz propósito nenhum, talvez tudo fosse nada.
A aprendizagem que me deram,
Desci dela pela janela das traseiras da casa,
Fui até ao campo com grandes propósitos.
Mas lá encontrei só ervas e árvores,
E quando havia gente era igual à outra.
Saio da janela, sento-me numa cadeira. Em que hei-de pensar?

Que sei eu do que serei, eu que não sei o que sou?
Ser o que penso? Mas penso ser tanta coisa!
E há tantos que pensam ser a mesma coisa que não pode haver tantos!
Génio? Neste momento
Cem mil cérebros se concebem em sonho génios como eu,
E a história não marcará, quem sabe?, nem um,
Nem haverá senão estrume de tantas conquistas futuras.
Não, não creio em mim.
Em todos os manicómios há doidos malucos com tantas certezas!
Eu, que não tenho nenhuma certeza, sou mais certo ou menos certo?
Não, nem em mim...
Em quantas mansardas e não-mansardas do mundo
Não estão nesta hora génios-para-si-mesmos sonhando?
Quantas aspirações altas e nobres e lúcidas -
Sim, verdadeiramente altas e nobres e lúcidas -,
E quem sabe se realizáveis,
Nunca verão a luz do sol real nem acharão ouvidos de gente?
O mundo é para quem nasce para o conquistar
E não para quem sonha que pode conquistá-lo, ainda que tenha razão.
Tenho sonhado mais que o que Napoleão fez.
Tenho apertado ao peito hipotético mais humanidades do que Cristo,
Tenho feito filosofias em segredo que nenhum Kant escreveu.
Mas sou, e talvez serei sempre, o da mansarda,
Ainda que não more nela;
Serei sempre o que não nasceu para isso;
Serei sempre só o que tinha qualidades;
Serei sempre o que esperou que lhe abrissem a porta ao pé de uma parede sem porta
E cantou a cantiga do Infinito numa capoeira,
E ouviu a voz de Deus num poço tapado.
Crer em mim? Não, nem em nada.
Derrame-me a Natureza sobre a cabeça ardente
O seu sol, a sua chuva, o vento que me acha o cabelo,
E o resto que venha se vier, ou tiver que vir, ou não venha.
Escravos cardíacos das estrelas,
Conquistámos todo o mundo antes de nos levantar da cama;
Mas acordámos e ele é opaco,
Levantámo-nos e ele é alheio,
Saímos de casa e ele é a terra inteira,
Mais o sistema solar e a Via Láctea e o Indefinido.

(Come chocolates, pequena;
Come chocolates!
Olha que não há mais metafísica no mundo senão chocolates.
Olha que as religiões todas não ensinam mais que a confeitaria.
Come, pequena suja, come!
Pudesse eu comer chocolates com a mesma verdade com que comes!
Mas eu penso e, ao tirar o papel de prata, que é de folhas de estanho,
Deito tudo para o chão, como tenho deitado a vida.)

Mas ao menos fica da amargura do que nunca serei
A caligrafia rápida destes versos,
Pórtico partido para o Impossível.
Mas ao menos consagro a mim mesmo um desprezo sem lágrimas,
Nobre ao menos no gesto largo com que atiro
A roupa suja que sou, sem rol, pra o decurso das coisas,
E fico em casa sem camisa.

(Tu, que consolas, que não existes e por isso consolas,
Ou deusa grega, concebida como estátua que fosse viva,
Ou patrícia romana, impossivelmente nobre e nefasta,
Ou princesa de trovadores, gentilíssima e colorida,
Ou marquesa do século dezoito, decotada e longínqua,
Ou cocote célebre do tempo dos nossos pais,
Ou não sei quê moderno - não concebo bem o quê -,
Tudo isso, seja o que for, que sejas, se pode inspirar que inspire!
Meu coração é um balde despejado.
Como os que invocam espíritos invocam espíritos invoco
A mim mesmo e não encontro nada.
Chego à janela e vejo a rua com uma nitidez absoluta.
Vejo as lojas, vejo os passeios, vejo os carros que passam,
Vejo os entes vivos vestidos que se cruzam,
Vejo os cães que também existem,
E tudo isto me pesa como uma condenação ao degredo,
E tudo isto é estrangeiro, como tudo.)

Vivi, estudei, amei, e até cri,
E hoje não há mendigo que eu não inveje só por não ser eu.
Olho a cada um os andrajos e as chagas e a mentira,
E penso: talvez nunca vivesses nem estudasses nem amasses nem cresses
(Porque é possível fazer a realidade de tudo isso sem fazer nada disso);
Talvez tenhas existido apenas, como um lagarto a quem cortam o rabo
E que é rabo para aquém do lagarto remexidamente.

Fiz de mim o que não soube,
E o que podia fazer de mim não o fiz.
O dominó que vesti era errado.
Conheceram-me logo por quem não era e não desmenti, e perdi-me.
Quando quis tirar a máscara,
Estava pegada à cara.
Quando a tirei e me vi ao espelho,
Já tinha envelhecido.
Estava bêbado, já não sabia vestir o dominó que não tinha tirado.
Deitei fora a máscara e dormi no vestiário
Como um cão tolerado pela gerência
Por ser inofensivo
E vou escrever esta história para provar que sou sublime.

Essência musical dos meus versos inúteis,
Quem me dera encontrar-te como coisa que eu fizesse,
E não ficasse sempre defronte da Tabacaria de defronte,
Calcando aos pés a consciência de estar existindo,
Como um tapete em que um bêbado tropeça
Ou um capacho que os ciganos roubaram e não valia nada.

Mas o dono da Tabacaria chegou à porta e ficou à porta.
Olhou-o com o desconforto da cabeça mal voltada
E com o desconforto da alma mal-entendendo.
Ele morrerá e eu morrerei.
Ele deixará a tabuleta, e eu deixarei versos.
A certa altura morrerá a tabuleta também, e os versos também.
Depois de certa altura morrerá a rua onde esteve a tabuleta,
E a língua em que foram escritos os versos.
Morrerá depois o planeta girante em que tudo isto se deu.
Em outros satélites de outros sistemas qualquer coisa como gente
Continuará fazendo coisas como versos e vivendo por baixo de coisas como tabuletas,
Sempre uma coisa defronte da outra,
Sempre uma coisa tão inútil como a outra,
Sempre o impossível tão estúpido como o real,
Sempre o mistério do fundo tão certo como o sono de mistério da superfície,
Sempre isto ou sempre outra coisa ou nem uma coisa nem outra.

Mas um homem entrou na Tabacaria (para comprar tabaco?),
E a realidade plausível cai de repente em cima de mim.
Semiergo-me enérgico, convencido, humano,
E vou tencionar escrever estes versos em que digo o contrário.

Acendo um cigarro ao pensar em escrevê-los
E saboreio no cigarro a libertação de todos os pensamentos.
Sigo o fumo como uma rota própria,
E gozo, num momento sensitivo e competente,
A libertação de todas as especulações
E a consciência de que a metafísica é uma consequência de estar mal disposto.

Depois deito-me para trás na cadeira
E continuo fumando.
Enquanto o Destino mo conceder, continuarei fumando.

(Se eu casasse com a filha da minha lavadeira
Talvez fosse feliz.)
Visto isto, levanto-me da cadeira. Vou à janela.

O homem saiu da Tabacaria (metendo troco na algibeira das calças?).
Ah, conheço-o: é o Esteves sem metafísica.
(O dono da Tabacaria chegou à porta.)
Como por um instinto divino o Esteves voltou-se e viu-me.
Acenou-me adeus gritei-lhe Adeus ó Esteves!, e o universo
Reconstruiu-se-me sem ideal nem esperança, e o dono da Tabacaria sorriu.

Tabacaria de Álvaro de Campos (Fernando Pessoa)
Narração por João Villaret
Música por Dead Combo